
Por Jotapê Jorge
Alguém certamente havia caluniado José, pois uma manhã ele foi detido sem cometer mal algum. Acordou em seu quarto, um verdadeiro quarto de gente, equipado com todo o aparato necessário para evitar uma infecção, e deparou-se com dois homens altos, vestidos em EPIs amarelos, redondos de fortes e que poderiam ser descritos como gorilas. De fato, os dois eram tão parecidos que pareciam indissociáveis, como animais amestrados num circo.
O mais alto deles – seria mesmo mais alto, ou estaria apenas imbuído de liderança? – falou numa voz grosseira, que lembrava o raspar de talheres num prato:
– Teje preso!
José botou sua máscara e foi impelido ao andar de baixo sob sopapos. O ano é 2084. O Brasil finalmente deixara a sua quarentena.
Queria ganhar a vida escrevendo, mas descobriu que não sabia usar à crase.