
Perdemos. A democracia deu errado no Brasil. Sim, foi bom enquanto durou, mas todo mundo sabia que esse negócio de voz popular não daria certo por aqui. Fechemos logo o Congresso. Tentemos de novo em 30 anos.
Democracia é um negócio difícil, porque infere liberdade de pensamento, de imprensa, de manifestação, coisas que a gente detesta. Basta entrar no Twitter. Nós não conseguimos sequer assistir a um festival de rock sem cagar regra sobre o line-up, que dirá discutir civilizadamente sobre o aborto, por exemplo. O brasileiro adora matraquear aos quatro ventos sua verve democrática (somos, afinal, o país do carnaval), mas basta alguém falar mal de sua diva pop para ele se rasgar em quatro e começa a gritar pelo fechamento do portal G1.
No fundo todo o brasileiro tem um Médici, um Figueiredo, crescendo dentro dele. É sério. Te dou cinco minutos. Vá ao banheiro e olhe. Mas você vai precisar de um espelhinho. No fundo (lá no fundo) a gente queria mesmo era ser um déspota, queria fazer valer nossa vontade com punho de ferro. Queria pegar o Jean Wyllys/o Bolsonaro/o Lula/o João Dória e arrastá-los em praça pública. Queríamos fuzila-los, dançar nus em chafarizes de sangue e sapatear nas faces pálidas e lacrimosas de seus parentes.
Mas como nem todo mundo pode ser déspota, a gente se associa a um. Basta ver as intenções de voto: Lula e Bolsonaro lideram. “Mas Jotapê, seu liberal de merda, seu sujo, você está comparando o Lulão da massa com esse nojento do Bolsonaro?”, dirão meus amigos de esquerda. “Mas Jotapê, seu esquerdinha pega na minha, você está comparando o ladrão do Lula com o Bolsomito?”, dirão meus amigos de direita.
(É neste ponto que eu perco qualquer chance de voltar a ter amigos)
Sim, eu estou. Os políticos brasileiros, filhos da pátria, são como nós. O sonho de Lula (e de muitos de seus correligionários, diga-se) era botar o juiz Sérgio Moro no cadafalso e transmitir sua execução em cadeira nacional com narração de Galvão Bueno e comentários de Walter Casagrande Jr. (“Casão, mas essa corda não vai arrebentar? Não é possível! A física não permite!”) E o sonho do Bolsonaro… Esse eu até tenho medo de saber.
Pois se é este nosso destino, que fechemos logo o Congresso. Que se faça em 2018 uma eleição para o ditador perpétuo do Brasil (que assumirá um mandato de quatro anos, evidene). Quem sabe assim a gente pare de discutir groselhas no Facebook.
Jotapê Jorge gosta de ser polemiquinho . Ele escreve por aqui sempre que não está assistindo BoJack Horseman, no Twitter todos os dias e tem um livro que você deveria ler.
Queria ganhar a vida escrevendo, mas descobriu que não sabia usar à crase.