
Lulu e sua amiga Lolosa gastando dinheiro no Shopping
Lulu e sua amiga Lolosa gastando dinheiro no Shopping
Lulu do Canavial: “Fiquei rica no bicho e fui gastar no Shopping”
Por Luciene Garcia
Inhaim?
Faz tempo que venho jogando na brabuleta, no jogo do bicho. Todo dinheiro que ganho fazendo bico de faxineira, eu junto e jogo no bicho. Sonho que estou num campo de brabuletas. Quatro. Joguei até que acertei. Tô rica. Fui na Banca do Sô Coelho e peguei a bufunfa. Liguei para a Lolosa: “Menina, ganhei no jogo do bicho, vamos conhecer um shopping?”.
Meu sonho. Conhecer um shopping. Diziam que era um lugar lindo. Tinha um perto da minha cidade . Na minha não tem, tem só a Loja das Fábricas, Lojão do Brás, Rosangela’s Fashion. Eu e Lolosa nos arrumamos, usei uns brincões do tipo pneu de trator que um gringo me deu depois de uma noite de amor ao luar. Blusa com decotão para mostrar a volúpia e calça grudada que não passava uma pulga.
Marquei com o taxista (de ônibus eu não iria, estava rica), pegamos a Lolosa e fomos cheirando a Sweet Avon. Fomos atrás. No táxi. Só pra esnobar. Foi chique demais. Lolosa foi me contando da última muamba que trouxe. Conseguiu passar amarula de procedência duvidosa na fronteira. Estava radiante.
De repente, vimos uma cidade cheia de prédio (morro de medo) e o motorista parou no estacionamento do shopping. Foi a glória. Aquela invejosa da dona da loteria iria morrer. A porta abriu sozinha. Não acreditei. Fui e voltei várias vezes. Parecia coisa do capeta. Eu entrava, fechava. Eu saía, fechava também.
Tava lotado de gente. Cheia de sacola. Ah, queria uma para mostrar que tinha feito compra no shopping. De preferência daquelas que a gente vai balançando e todo mundo vê. Começamos a olhar vitrine. Gente, que coisa chique. Relógio rodando, pulseira, entrava nas lojas e as araras cheias de roupas. Olha a Angélica de papelão em tamanho natural. Fiquei impressionada.
“Lolosa, eu quero uma sacolona. Vamos entrar numa loja e comprar!”, eu falei.
Olhamos: Zara. A mocinha não olhou pra gente com a cara boa não. Tudo o olho da cara. R$ 1 mil um conjunto? Quê isso! Com mil eu pago quatro meses de aluguel do meu barraco. Vi uma coisa em promoção: cardigãs. O que seria aquilo? Eu quero um cardigã. R$ 300. Vou pagar só por causa da sacola, pensei. Peguei um preto. “Mocinha, põe numa sacolona”. Sei lá aonde eu ia usar aquilo, mas comprei.
Saí com uma sacolona preta escrito Zara em dourado. Fui balançando a bichona nos corredores do shopping. Senti-me a última bolacha do pacote.
Aí eu queria ir ao banheiro. Entrei, cheio de espelho. Era tudo automático. Quando abri a tampa veio um papel e cobriu a tampa. Que diabo era aquilo? E na hora de lavar as mãos? Cadê a torneira? Fiquei procurando e nada. Vi uma mulher com cabelão parecendo cabeça de capacete só chegar a mão embaixo da bica que saía a água. Lolosa do céu, o trem é moderno. E a descarga? Truummmmm. Ia tudo embora sem fazer barulho.
“Vamos tomar chopp, Lolosa? Agora eu tô rica e eu fígado não aguenta mais pinga!”, eu falei.
Sentamos num lugar cheio de luzes e pista de comida que a gente vê de cinco em cinco anos. Um chopp. O garçom, chiquetérrimo, veio com uma bolachinha de papel e pôs as taças de chopp. Isso é que é vida. Cada uma tomou 20 chopps. Uma fortuna a conta. Meu dinheiro estava quase acabando, mas tonta de chopp não tem problema: a gente fica mais rica ainda. Começamos a entrar em tudo quanto é loja. Música alta, mocinhos de trança, mocinhas de tatuagem. Era outro mundo. Resolvi dar de presente uma piteira pra Lolosa. Ela pita cigarro de ‘paia’. Comprei num quiosque. Lolosa me deu um abraço. Pensei:”bicha falsa, ser amigo de rico é fácil”.
Anoiteceu. Saímos do shopping e achamos o motorista no mesmo lugar. Fomos embora para a pobreza. E voltei pobre mesmo. Ficou tudo na Zara e no chopp. Agora era voltar pra faxina e usar o cardigã. Mas ia fazer sucesso no forró do Milk & Boi domingo à tarde. Lá pelo menos eu arrumava um cacho e não voltava sozinha e tonta pra casa. O cardigã tinha obrigação de me salvar. Ah, se tinha.
Alguém da equipe escreveu, mas ficou com vergonha de assinar.