
Lulu do Canavial: Ser mulher é o peba
Por Luiene Garcia
Inhaim?
Estava no domingo de tarde, deitada só de calcinha, com uma camiseta curtinha de propaganda do Ulysses Guimarães presidente, no meu sofá de napa amararela, 3 cobertor sapeca-negrinho, assistindo ao “Pograma” da Eliana. Nininha, deitada comigo. Tava tomando um Toddy pelando com conhaque na minha inseparável caneca de alumínio, onde estava escrito uma frase que define a minha vida. “coração vazio, perereca quente”. A outra está escrito assim “Sou gordo e posso emagrecer. E você que é feio?”. Ganhei de uma patroa que trouxe de Aracaju (uma Lembrancinha, viu, filhinha?).
Bate na porta do barraco a Lolosa e a Tobiniana. Domingo não é dia de visita… é descanso, dormir, soltar pum debaixo das cobertas Abri a porta do barraco. As duas entraram e começaram a gozação. Lolosa disse que nunca tinha visto tanto pneu na vida, que meu peito parecia melancia caída. Mandei ela tomar no cu. Tobi já olhou da cintura para baixo.
— Mulher, há quanto tempo você não depila?
— Três meses que a minha pitrica não vê depilação….
A calcinha estava estufada de tanto pelo. Tobi disse que parecia que eu estava com um ururbu com as asas abertas embaixo da calcinha. E disse para ela que era o meu “puff do amor”.
Fui levantar os braços e mostrei o meu “subacu”. Tobi falou que o Tarzã e a Chita passeavam de cipó embaixo do meu braço com tranqüilidade.
— Lulu, mulher tem que ser vaidosa, cheirosa, linda
O caralho. Eu vim do Canavial. Tomava um banho por dia.
— Lulu, vamos dar um jeito nisso, senão você não arranja um homenzinho nem de doce.
Tobi ligou para a depiladora e marcou um “ranca pentelho” pras duas da tarde da segunda.
Cheguei na depiladora 13h – sou pontual, chego uma hora antes – e fiquei lendo aquelas revistas de um mil novecentos e antigamente. Porque será que consultório, depiladora, dentista só tem revista velha? E tudo amassada porque as secretárias não têm o que fazer e ficar lendo debruçadas em cima.
A depiladora, Tirinha Raspadinha, nem “oi” direito falou, foi logo mandando tirar a calcinha. Achei aquele trem esquisito. Cada batida de cera quente, eu dava um grito. Chorei feito criança. O tanto de cabelo que saiu grudado dava pra fazer duas perucas. Até a língua da minha perseguida foi depilada.
Mandou eu ficar de quatro. Bateu a cera no meu “fiofó”… Jesuis Do Céu. Perdi as prega. Meu botão ficou igual corrimão, de tão liso. Depois jogou talco.
Pior que dura pouco. Depois vou ter que passar por tudo de novo. E a piniqueira pra nascer? Na próxima encarnação, quero nascer homem. Não depila as partes, não precisa de modess, não tem que pintar cabelo e nem as unhas. Ou vou continuar sendo a Monga, a mulher gorila do circo, se for pra sofrer assim…
Luciene é jornalista e de duas a três vezes por semana incorpora o espírito da irrequieta Lulu do Canavial aqui no RdB