
No passado, quando pensávamos no século 21, imaginávamos uma era de total prosperidade, à Star Treck, onde a fome, a peste e os especiais de Natal do Porta dos Fundos estivessem relegados aos livros de história. Ou isso, ou um futuro distópico, em que a ganância humana levara à destruição quase completa do planeta, e o que restou da humanidade se visse obrigado a assistir ao especial de Natal do Porta dos Fundos.
Mas ninguém imaginou uma era de total imbecilidade como a deste século 21. Se você contasse para o Julio Verne que no final de 2018 existiria uma coisa chamada Twitter num negócio chamado internet e que num país chamado Brasil um presidente chamado Bolsonaro seria chamado de um negócio chamado fascista porque fez um negócio chamado bloquear com um pessoal chamado de jornalista para um site chamado The Intercept… Ufa! Provavelmente Verne teria desistido da ficção.
Tudo indica que teremos quatro anos difíceis pela frente. O novo governo mal começou e já está desgastado por um escândalo de corrupção. Isso não é necessariamente ruim. É bom termos uma imprensa combativa e, melhor ainda, investigativa. Mas e a imprensa brasileira? No lugar de se preocupar com o Queiroz, ela quer saber se o Bolsonaro come pão com leite condensado. Nossa imprensa virou um rapaz obsessivo que curte todas as fotos da ex, fica dando indiretinha no Face e quando leva um block choraminga no Twitter.
Sério, a que ponto chegamos? A distopia brasileira não tem câmeras de vigilância 24h. No lugar, o Grande Irmão nacional bloqueia a sua tele-tela. E o pior, nosso Winston fica triste por causa disso! Ser bloqueado pelo grande ditador!! Como escrever humor neste país? Como escrever ficção!? A realidade é mais ridícula do que A Metamorfose em Macondo. Temos um ditador o fascista que bloqueia as pessoas do Twitter!
O brasileiro de esquerda dormiu sonhando com o Dops e o Doi-Codi, com grandes guerrilhas urbanas e com pichar Abaixo a Ditadura na escadaria do Municipal, mas acordou com fotinho legendada dizendo “se fere minha existência, serei a resistência”, receita de bolo no Facebook e em ser bloqueado por Bolsonaro no Twitter.
Eu também quero fazer parte dessa resistência. Também quero contar para os meus netos o quanto sofri neste governo. Também quero ser um mártir deste neo-64 no bar Capivara. Também quero me sentir um jornalista de 20 poucos anos inebriado pelo meu próprio senso de responsabilidade…
Bolsonaro, por favor, me bloqueia. Me bloqueia!
#mebloqueiabolsonaro
Jotapê Jorge é escritor, jornalista e polemiquinho no Twitter
Queria ganhar a vida escrevendo, mas descobriu que não sabia usar à crase.