Meu almoço com Mário Sérgio Corteeeeella no restaurante “Bendita Galinha”

Meu almoço com Mário Sérgio Corteeeeella no restaurante “Bendita Galinha”

Por Edson Aran

Quarta, 20 de junho

Almoço com meu grande amigo Mário Sérgio Cortella, o popular filósofo das multidões.

O Brasil de 2018 é direitinho uma Atenas de Péricles, a era de ouro da Grécia Antiga, de onde surgiu a democracia, a dramaturgia e a um monte de outras “ia”, como a letargia, a liturgia, a alergia e a orgia, que sempre foi minha preferida.

Como o Brasil de hoje tem filósofo saindo pelo ladrão, o país agora segue o caminho glorioso da civilização ocidental, mas com uma grande vantagem: tudo já está em ruínas, enquanto a Grécia só conseguiu isso depois de um montão de invasões bárbaras.

Com sua voz de barítono e as vogais alongaaaaadas, Cortella é uma mistura de Platão com Pavarotti, o que o torna muito mais divertido que a Marilena Chauí, por exemplo, que é uma mistura de Espinoza com Aracy de Almeida.

Para nosso almoço, escolhi o restaurante “Bendita Galinha” na Vila Madalena (Rua Serpentina, 2934), que serve apenas galinhas veganas que não foram maltratadas antes de chegar ao seu prato. A chef Yolanda Yorubá aplica pessoalmente uma doce massagem do-in no pescoço do frango antes de entrangulá-lo e jogá-lo no forno. Os legumes também recebem uma atenção toda especial com fascinantes lições de auto-estima que os deixa mais tenros e suculentos. “Quem é o tubérculo mais lindo dessa cozinha, hein? Quem é?”, pergunta Yolanda Yorubá para as cenouras e batatas antes de despeja-jas na água quente.

Eu pedi um “Filé de Frango Livre de Tensões com Molho de Laranja Plenamente Realizada”, enquanto o rotundo Mário Sérgio Cortella foi de “Galinha Inteira Energeticamente Equilibrada com um pratão de arroz no limiar da consciência holística”.

Enquanto esperávamos nossos pratos, perguntei ao glorioso sabichão o que é, afinal, a filosofia. O professor Mário Sério Cortella fez uma pausa dramática antes mesmo de começar a falar –  o que é um feito extraordinário, já que pausa é geralmente feita no meio de alguma coisa.

Ele então começou sua preleção:

“Meu caro Araaan, a filosofiaaaa é, por definição, um amor pela sabedoriaaaaa. Vou repetir: a filosofia é, por definição, um amor pela sabedoria. E a sabedoriaaaa, como sabeeeemos, é a qualidade daquele que é sááábio. Vou repetir: a sabedoria é a qualidade daquele que é sábio. E o  sááábio, como também sabemoooos, é aquele que é um erudiiiito. Vou repetir: o sábio é aqueeeeele que é um erudi-toooo”.

Menti que precisava ir urgente ao banheiro e fugi pela janela do mictório. Foi difícil me espremer pela pequena fresta, mas sem dúvida muito melhor do que aguentar aquela preleçããão. Vou repetir: foi difícil me espremer pela janeeelaaa, mas sem dúvidaaaa muito melhor do que aguentaaaaar aquela preleeeeçããããoooo.

 

 

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