

Já disponível no Brasil, com o título “A Paciente Silenciosa”, o excelente thriller de Alex Michaelides.
Nele, uma pintora mata (ou não) o próprio marido e decide se calar por cinco anos. Todo esse tempo ela fica sem dizer uma palavra sequer. Um terapeuta decide que ela precisa de ajuda.
Escritores podem ser grandes estilistas (como Raymond Chandler) ou grandes contadores de histórias (como Gillian Flynn, do delicioso Garota Exemplar).
Ambos têm seu valor, dependendo do momento.
Para um artista refinado como Chandler, o final do livro é indiferente. O caminho vale mais do que o ponto de chegada.
Aliás, como escreveu David Crow no site “den of geek” “Quando The Big Sleep estreou há mais de 70 anos, marcou a mais nova aventura cinematográfica de Philip Marlowe, o amado detetive particular de Raymond Chandler. (O diretor) Howard Hawks estava entregando uma história de crime difícil de bater para o público, lidando com temas delicados como chantagem, pornografia, assassinato e a decadência amoral do um por cento dos mais ricos da sociedade. Todos estes ingredientes deliciosamente mórbidos foram cozidos no que se tornou um dos maiores filmes noirs da era pós-guerra… Como ficou famoso, Hawks reuniu seus melhores roteiristas – um grupo que incluía William Faulkner, Leigh Brackett, e Jules Furthman – para desempacotar a densa teia narrativa do romance de Chandler… Como Chandler conta em seus papéis, o grupo perguntou a ele quem matou Owen Taylor, um motorista que o público nunca encontra até que ele aparece como a segunda vítima de um homicídio inexplicável. ‘Mandaram-me um telegrama’, escreveu Chandler. ‘Perguntando-me e, diabos, eu também não sabia!’ Ninguém realmente sabe. Mas quem se importa?”
Mas Chandler é um em um milhão.
Se assassinatos de suas novelas ficam sem esclarecimento, subvertendo a lógica dos romances policiais, isso não interessa. Chandler pode. Qualquer autor, comparado com ele, sai perdendo. (aliás, para mim Chandler é o segundo maior romancista americano, perdendo apenas para F Scott Fitzgerald. Hemingway aparece aí pelo quarto ou quinto lugar).
Alex ou Gillian não têm essa pretensão (embora Flynn tenha insights mais interessantes sobre a alma humana. E, sem nenhum machismo, ela escreve como homem. Suas observações sobre a psique feminina às vezes têm uma crueldade surpreendente para uma mulher e uma falta de empatia com o próprio gênero que pode ser assustadora). Mesmo sem ser um estilista sofisticado (e sendo menor que Flynn, com quem será inevitavelmente comparado), Alex é um grande contador de histórias.
Suas frases são banais, suas construções tropeçam tanto em clichês que deveriam ser obrigadas a andar de capacete. Mas você não larga o livro até chegar ao final.
Ele tem uma puta estória para contar, com uma virada no final que impressionou seus parceiros de letras.
Não é pouca coisa.
Recomendo.
Renzo Mora é precursor do ventriloquismo em libras. A iniciativa segue em permanente aperfeiçoamento, dado que o boneco encobre a linguagem de sinais.