

Você devia ler: Antologia do Humor Russo (editora 34)
Só não sou um perfeito ignorante porque ninguém é perfeito.
Humor russo, por exemplo.
Tirando Nikolai Gógol e Vladmir Nabokov, não conhecia nada. Por isso quando vi, na Livraria da Vila, essa “Antologia do humor russo (1832-2014)”, da editora 34, peguei na hora.
Primeiro porque não resisti à curiosidade e, segundo, porque tenho duas obsessões: colecionar livros de humor e “instruções de segurança” de companhias aéreas.
Olha, foi uma grana bem investida. Descobri o incrível Daniil Kharms com seus sátiras literárias que lembram o Woody Allen na “New Yorker“. E Natália Dobrokhotova que também vai no humor referencial altamente intelectualizado, mas com o pé fincado na jaca. E Nadiéjda Téffi, que parodia verbetes enciclopédicos para descrever uma Grécia que só existe na cabeça dela. Ou Dimitri Prigov com seus contos curtos sobre Stálin.
Coisas do tipo: “Certa vez, ainda criança, Stálin e um amigo passaram em frente a um açougue. Stálin pegou um pedaço de carne e tocou a correr. Eles o alcançaram e perguntaram: ‘Foi você que roubou?’. ‘Não, foi ele’, Stálin respondeu. E o amigo foi cortado em pedaços.”
E ainda tem Isaac Babel, Anton Tchekhov, Nabokov e mais um montão de gente. Descobri revistas de humor do período czarista fechadas pelo czar e revistas de humor do período comunista fechadas pelos bolcheviques. E até revistas de humor do período democrático fechadas pelo capitalismo mesmo.
Cáustico, sarcástico e algo melancólico, como toda grande sátira, o humor russo é uma mistura de Dostoievski com Monty Python ou Tolstoi com Saturday Night Live.
Os textos entram em ordem cronológica no livro e o período mais rico e selvagem é – óbvio! – o que vai do fim do império à ascensão do stalinismo. A organização (e várias das traduções) é de Arlete Cavaliere. #FikaDika.
Edson Aran faz números de sapateado e é autor do best-seller "As incríveis aventuras sexuais de Jesus Cristo" (inédito).